Tive um vizinho que morou por pouco tempo no meu prédio. Nunca soube seu nome, mas quando a gente se encontrava casualmente pelas manhãs no elevador, eu lhe desejava bom dia, perguntava se estava tudo bem e ele inevitavelmente me respondia sorrindo:
– Tudo bem, com tendência a melhorar!
Era talvez o seu credo: transmitir uma mensagem positiva em relação à vida.
Certa vez eu o vi no playgroud com sua filha, que na época devia ter uns oito anos de idade. Ele ajudava pacientemente a menina a andar. Ela tinha as perninhas atrofiadas e era semiparalítica.
O fato é que isso não era motivo para que meu vizinho abrisse mão daquilo que ele me dizia pelas manhãs.
Como pessoa ou como empresa, estabelecer um credo pode ser uma das coisas mais poderosas que uma marca pode criar na mente humana. Sobretudo quando às vezes esses valores são postos à prova.
O Google também tinha o seu: Não seja mau. Uma frase simples e que refletia sua cultura despojada e informal (ih, até rimou.)
Soube que recentemente milhares de funcionários da empresa assinaram uma petição solicitando que ela não participasse de um contrato lucrativo com o Departamento de Defesa norte-americano que previa a análise de vídeos e imagens feitas com drones. Afinal, se nesse caso drones ajudam a matar pessoas, por tabela a empresa estaria sendo incoerentemente “má”.
Com isso, o Google desistiu de participar do projeto e demonstrou de alguma forma que seu credo era significativo e autêntico. Mas, por via das dúvidas, abandonou o “não seja mau” e resolveu há poucas semanas mudá-lo para “faça a coisa certa”.
O que talvez, no fundo, seja a mesma coisa.
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